Sobre a psicanálise: amar e mudar as coisas, me interessa mais.
- Fabíola Oliveira
- 20 de out.
- 4 min de leitura
Atualizado: há 1 dia

Antes de iniciar a leitura, uma sugestão:
Coloque para Alucinação, de Belchior.
tocar
Talvez a música ajude a compor o clima dessa conversa.
Um dia desses, estava em um Uber e o motorista me perguntou qual era a minha profissão. Não sei se você é de São Paulo, mas por aqui é bem comum as pessoas iniciarem uma conversa perguntando com o que a gente trabalha, como se isso dissesse algo sobre o lugar que ocupamos no mundo.
Respondi que atuo como psicanalista. Ele ficou curioso e perguntou: “Qual é a diferença entre a psicanálise, a psicologia e a psiquiatria?”
Pode ser que essa também seja a sua dúvida. E, em vez de responder com teoria, acho mais interessante contar como a psicanálise chegou na minha vida.
O ano era 2014. Eu estava muito angustiada. Sabe aquele tipo de dor que pega na alma, mas que a gente não consegue explicar de forma racional?
Parafraseando Raul Seixas, na música Ouro de Tolo:
“Eu devia estar contente, porque eu tenho um emprego, sou uma cidadã respeitada e ganho um salário bem interessante por mês...”
Mesmo assim, alguma coisa me faltava. Procurei ajuda e uma amiga me indicou sua terapeuta. Comecei a sair de Santo André até Moema para encontrar a Márcia. Não sabia que linha ela seguia, nem o que aconteceria ali. Mas a necessidade de ser ouvida estava transbordando.
E literalmente, viu? Ela me pedia para falar da minha vida e eu falava e chorava. Nem sabia que uma pessoa podia guardar tanta lágrima.
Quanto mais eu me escutava, mais doía. Como uma ferida aberta que eu não sabia que existia.
Fiquei pouco tempo com a Márcia. Nem um ano, mas o suficiente para ela se tornar um marco na minha história. Na época, parei por questões financeiras, mas hoje entendo que, naquele momento, eu ainda não conseguia sustentar tanta dor.
Respirei, assentei algumas coisas em mim, e depois iniciei a análise com outra pessoa. Dessa vez, online. Ela mora em Salvador. O nome dela é Jéssica, e é minha analista até hoje.
Com o tempo, fui me ouvindo e reconhecendo alguns padrões. Me perguntava se eu era workaholic por escolha, por exigência do meio, por uma necessidade absurda de aceitação, ou tudo isso junto. Me perguntava se estava no lugar certo, com as pessoas certas, ou se só estava indo, empurrando.
Minha cabeça às vezes parecia um grande Qual é a Música? E eu me pegava pensando:
“Será que estou vivendo assim, no ritmo de
‘deixa a vida me levar, vida leva eu’?”
Enquanto isso, minha vida profissional também mudava. Já tinha passado pelo corporativo, com experiências em empresas como Ambev e Valeo. Naquele momento, atendia empresas de forma autônoma, com foco em recrutamento e seleção.
Foi aí que também comecei a prestar assessoria para pessoas em busca de recolocação.
O que eu não esperava, e talvez seja óbvio para quem olha de fora, é que por trás de alguém pedindo ajuda com currículo ou LinkedIn, existia alguém em processo. Gente em dor, em travessia, em busca de escuta.
Foi quando decidi fazer uma formação em psicanálise. E encontrei ali uma nova profissão, um novo modo de estar no mundo, que segue fazendo muito sentido para mim.
Se estivéssemos numa mesa de bar, talvez você me perguntasse: “Então você está curada? Terapia em dia?”
Eu daria uma gargalhada e diria: “Só que não.”
A vida é intensa. A angústia faz parte da experiência humana. Mas hoje reconheço alguns dos meus padrões e me sinto agindo de forma mais autêntica.
Ainda sigo muitas convenções, sim, mas tento respeitar a minha singularidade, meus ritmos e minhas vontades.
Freud dizia que a psicanálise é a terceira grande ferida narcísica da humanidade.
A primeira foi com Copérnico, ao mostrar que a Terra não era o centro do universo. A segunda, com Darwin, ao nos lembrar que somos uma espécie animal. E a terceira, com ele mesmo, ao escancarar o inconsciente e nos dizer que não somos senhores da própria razão.
Reconhecer essas feridas, especialmente a que nos atravessa por dentro, me trouxe não uma desistência do mundo, mas um encantamento. Um desejo de seguir perguntando, escutando, tentando compreender, com curiosidade e sem pressa, o que é existir como sujeito.
Talvez tenha sido isso que me levou à psicanálise. E talvez seja isso que me faça querer continuar nela.
E, voltando à pergunta do Uber, a resposta mais objetiva seria:
A psicologia estuda o comportamento humano e atua em áreas como clínica (com inúmeras abordagens), empresas, educação, marketing. A psiquiatria é um ramo da medicina que trata transtornos mentais com o uso de medicamentos. A psicanálise, criada por Freud, é uma prática que escuta o inconsciente. Não busca “consertar” comportamentos, mas compreender os conflitos internos que os sustentam.
Como também cantou Raul,
“cada um de nós é um universo”
por isso, a psicanálise é um estudo sem fim. Inclusive, foi ela que me levou a fazer uma nova graduação em filosofia. É algo que, por ora, pretendo praticar pelo resto da minha vida.
Se você tem vontade de iniciar um processo de análise, me chama por mensagem privada. Se der certo com minha agenda, será um prazer. Se não, posso te indicar profissionais que atuam com escuta séria e comprometida.
Ah, e obrigada por ter lido até aqui.
Como falei lá no começo, não pretendia neste texto me debruçar sobre teoria. A intenção foi que você se sentisse em um diálogo, aberto e sincero. Pois, como diria Belchior:
“Amar e mudar as coisas, me interessa mais.”
Fabíola Oliveira
Psicanalista
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